segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poesias para crianças


Escrever boa poesia para leitores pequenos, mas exigentes, não é tarefa fácil. É preciso encontrar o tom certo, enfrentar as limitações de vocabulário e de assunto, como dizia José Paulo Paes.No Brasil, a poesia infantil só ganhou impulso no século 20, depois do modernismo. Mário de Andrade, que nunca publicou para crianças, tinha enorme fascinação pelas canções populares. Ele costumava fazer quadras brincalhonas para brincar com suas sobrinhas. Já Oswald de Andrade certa vez escreveu: "Aprendi com meu filho de 10 anos/ que a poesia/ é a descoberta das coisas que nunca vi". O adulto que aprende com a imaginação infantil sabe encontrar o tom certo para falar com a meninada de igual para igual.Entre os grandes livros de poesia para crianças, temos "Ou isto ou aquilo", da poeta Cecília Meireles, publicado em 64. Depois dela, outros poetas entraram nessa divertida e muito séria brincadeira, como Vinicius de Moraes, com a sua "A arca de Noé", e que foi musicada por Toquinho.Mário Quintana, poeta de versos simples e singelos, fez o seu "Pé de pilão" em 76. As famosas "Fábulas" de La Fontaine foram traduzidas pelo poeta Ferreira Gullar, que também passou a escrever recentemente para crianças, como em "Dr. Urubu e outras fábulas" e "Um gato chamado Gatinho". Outro nome importante é Manoel de Barros, autor do premiado “Exercícios de ser criança”.Um poeta que se destacou nos anos 80 foi José Paulo Paes. Ele publicou vários livros e até mesmo ensaios sobre poesia infantil. Para Zé Paulo, a poesia chama a atenção das crianças para as surpresas que podem estar escondidas na língua que elas falam todos os dias. Além disso, escreveu ele, "poesia é brincar com palavras/ como se brinca/ com bola, papagaio, pião.// Só que bola, papagaio, pião/ de tanto brincar/ se gastam.// As palavras não:/ quanto mais se brinca/ com elas/ mais novas ficam".Nem todos os poetas se dedicaram à escrita para crianças, mas em suas obras podemos encontrar poemas para todas as idades, como Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Quem não se lembra da “pedra no meio do caminho”, de Drummond, ou do delicioso refrão “Café com pão/Café com pão/Café com pão”, do poema “Trem de Ferro”, de Bandeira? Poesia da mais alta qualidade para um público extremamente exigente, que não se deixa enganar por qualquer rima fácil.

Texto: Heitor Ferraz

(Fonte: http://www2.tvcultura.com.br/entrelinhas/miscelanea.asp?miscelaniaid=29)

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